Número de agricultores no AM cresce e produtos orgânicos invadem Manaus

“Estamos vendendo saúde”. Assim a agricultora orgânica Etelvina Mota, 64, define o comércio de produtos orgânicos que aos poucos vem conquistando mais espaço nas feiras livres de Manaus. E ela está certa. Esse tipo de alimento é produzido sem o uso de fertilizantes sintéticos, solúveis, agrotóxicos e transgênicos, portanto, é mais saudável e essencial para uma boa alimentação e, consequentemente, para melhorar a qualidade de vida, bem como para a conservação do meio ambiente.

Mas a cadeia produtiva da agricultura orgânica, apesar da ascensão, ainda tem muito que evoluir. Etelvina destaca que os consumidores precisam ter mais conhecimento sobre esses produtos saudáveis (produzidos sem nenhuma substância que coloca em risco a saúde humana e o meio ambiente e vem direto do campo para as feiras). Por outro lado, ela também defende mais apoio aos agricultores orgânicos para que aumentem a produção e tenham como escoá-la até o mercado consumidor.

Atualmente, de acordo com a agricultora, o cenário para a venda de alimentos orgânicos em Manaus é bom se comparado há alguns anos. Hoje, por exemplo, ela revela que os produltores que fazem parte da Associação dos Agricultores da Comunidade São Francisco de Assis (AACSFA), no ramal Cachoeira, em Rio Preto da Eva (a 57 quilômetros da capital), da qual ela é presidente, comercializam seus produtos em pelo menos cinco feiras livres que têm os orgânicos como destaques.

Sem veneno

Para o agricultor Antônio Bezerra Soares, 59, integrante da AACSFA, nesse tipo de produção só fica quem gosta de plantar e colher e que tem responsabilidade, visto que é difícil produzir. “É mais trabalhoso. Tem que ter força de vontade e seguir o treinamento que recebeu. Porém é melhor porque no momento que você deixa de usar venenos na plantação, o que não acontece na agricultura convencional, você está tendo responsabilidade consigo e com os outros também”, disse.

Antônio conta que é agricultor desde 2008. Começou com uma plantação de banana. Um dia, um técnico foi ao local e mandou que ele comprasse diversos fertilizantes e defensivos agrícolas. Tudo que indicou sairia por R$ 3 mil. “Fiquei muito revoltado. Falei para a minha esposa que nunca ia fazer isso – gastar esse dinheiro todo em veneno. Em seguida, apareceu o pessoal da Rede Maniva falando a respeito do orgânico e eu percebi que era o que eu queria”, relatou.

Transição

A agricultora Nadiane Paes Melo, 34, da Associação dos Produtores Agrícolas do Ramal do Pupunhal (APARP), em Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus), diz que a família decidiu trabalhar com a agricultura orgânica ao entender que seria melhor para a qualidade de vida de todos. Mas a transição não foi fácil. “Para quem é acostumado a utilizar veneno desde sempre e de repente deixar de usar, gera muitas dúvidas, como se vai dar certo, se vamos conseguir produzir, enfim”, comentou.

Mas hoje, se tem uma coisa que não faz parte da vida de Nadiane e sua família é o “arrependimento”. “Graças a Deus a gente encarou e deu tudo certo”, comemorou. Tanto ela quanto os demais agricultores orgânicos destacam que, embora o escoamento e a comercialização da produção ainda seja um dos maiores desafios, muitos entraves foram superados. Atualmente, por exemplo, alguns agricultores do setor fornecem produtos orgânicos, entre frutas, verduras e até as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs), para o Programa de Regionalização da Merenda Escolar (Preme) do Amazonas e de Manaus.

Além disso, muitos participam das feiras que acontecem em seus respectivos municípios e em Manaus. Na capital, há feiras de produtos orgânicos no Studio 5 (quarta, de 10h às 20h); no Shopping Ponta Negra (sábado, de 05h às 11h30); no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Aleixo (quinta, de 16h às 19h); na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no Coroado (a partir de março, na primeira quinta e sexta de cada mês, durante o dia todo); e na Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Amazonas (SFA), no  Adrianópolis (sábado, de 6h às 12h).

Regularização

Após ser impedida de acontecer no primeiro sábado do ano, a feira da Associação dos Produtores Orgânicos do Amazonas (Apoam) voltou a ser realizada nesse sábado (12) nas dependências da Superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Estado. Segundo o Mapa, foi feito um acordo para a regularização em até 90 dias.

Feiras com alas exclusivas para orgânicos

Os agricultores orgânicos tem tido um apoio fundamental da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS) para comercializar seus produtos. Entre as iniciativas que demonstram isso está a feira exclusiva de alimentos orgânicos que é realizada em parceria com a Rede Maniva de Agroecologia, nas dependências do Incra, no Aleixo, Zona Centro-Sul.

Inaugurada em setembro de 2017, a feira contabiliza 56 edições e movimentou recursos que ultrapassam R$ 240 mil. Além disso, mais de 60,5 mil quilos de produtos foram comercializados.

Na última semana, a ADS inaugurou uma ala só de produtos orgânicos na Feira de Produtos Regionais que funciona no estacionamento do Shopping Ponta Negra, na Zona Oeste. Quem visitar a feira aos sábados ( de 5h às 11h30), vai encontrar uma área com cerca de 17 produtores oriundos das zonas rurais de Manacapuru, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo, Iranduba, Careiro da Várzea e Careiro Castanho.

A ADS informou que as demais feiras de produtos regionais realizadas pela agência, que funcionam nos seguintes locais: Sumaúma Park Shopping (terça), Manaus Plaza Shopping (terça e quinta), Shopping Ponta Negra (quarta e sábado), Cassam (sábado), Frigorífico Vitello (sábado), Comando da Polícia Militar (sábado – quinzenal) também contempla produtores de orgânicos, juntamente com agricultores de produtos convencionais.

Produção ainda não é suficiente no AM

Na análise da professora e pesquisadora Therezinha Fraxe, que coordena a Feira Agroufam, projeto da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o maior desafio é aumentar a produção de orgânicos, visto que a sociedade clama cada vez mais por produtos sem venenos.  “Além da Ufam, temos feira orgânica em um shopping da cidade e outros dois já nos procuraram porque querem implantar também. Mas ainda não temos produção para isso. Por isso é necessário que o número de agricultores orgânicos seja ampliado”, acrescentou.

Hoje, conforme Therezinha, o Estado tem em torno de 100 agricultores orgânicos, uma quantidade bem superior comparada a que existia dois anos atrás. “Eram só 13. Mas isso mudou por conta de uma campanha da Ufam e Rede Maniva de Agroecologia, com apoio do Idam, Musa e do Mapa”, apontou.

Este ano, o objetivo é chegar a 500 produtores orgânicos. O número ousado pode ser alcançado com o aumento da rede de certificação e formação de novas Organizações de Controle Social (OCS). “Estamos numa campanha muito grande. A própria Ufam com a Rede Maniva e o Mapa já estão certificando os produtores. Nossos técnicos fizeram curso para fazer esse trabalho. Antes só o Mapa fazia, o que acabava não atendendo bem a demanda”, explicou.

Therezinha revela que há projeto em andamento para aumentar a produção orgânica nos municípios de Autazes, Rio Preto da Eva e Maués.

 

Reportagem: Silane Souza

Foto: Yasmin Feitosa

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